sexta-feira, 19 de julho de 2019

O doido que não era louco



                             



Autora 
Carmem Silva

O doido que não era louco

Em meados da década de quarenta
Uma notícia forte se espalha
De repente um acontecido arrebenta
Ao seu João que não tinha falha.

Conhecer a arte para ele não deu
Na violenta cidade de Floresta
Lugar onde nasceu
Em tamanho e sabedoria
Foi assim que ele cresceu.

Seu ai era homem do campo
Sua mãe de boa formação
Carinhoso com seus pais
Dava-lhes muita atenção
E fez questão de ama-los
Com bastante afeição

Dizia que: todo poder mesmo forte
Tem sua debilidade
Para seu João a arte de encenar
Não era nada de falsidade
Era a luz do viver  do artista
Transformando o, até num cientista.
  
Seu João conhecimento não tinha
Porém era feliz, que o saber lhe continha.
Pensava em oprimidos juntos
Que para ele seria nova humanidade
Libertando quem oprime
Tem os dois a liberdade

Certo dia entrou numa fria
Diante do sucesso que acontecia
Em forma de surpresa e novidade
Era o cinema que surgia
Seu João homem negro sem falha
Aparece louco, quando percebe.
Que da arte nada lhe ampara

Pois no dia nove de abril
Seu João entristeceu
Em meados dos anos quarenta
Sua dignidade perdeu
Por falta da arte que lhe sustenta
Assim foi a história que o nordeste conheceu

Homem cheio de amizade
Cabra valente e desconfiado
Ir ao cinema tornou se realidade
E foi por amigos convidado
Numa sexta feira santa
Estava lá o sonho baseado
Num fato de realidade

O cinema tratava da vida Cristo
Filho de Deus o Salvador
Surpreso seu João estava
Com o que nunca tinha visto
Passava na tela
A vida de Jesus Cristo

Seu João nunca viu
Tanto sofrimento a Cristo
E assim no estado de Pernambuco
Tudo aquilo nunca fora explícito
Foi ficando perturbado feito maluco

Pegou  seu rife, atirou feito danado
Querendo ele acabar aquele mal
Foi tiro para todo lado
Todo mundo tão apavorado
Acertou seis camaradas, fatal.
Foi uma tragédia, e grita o povo.
De dentro do cinema se escutava

Polícia! Polícia! Gritando
Veio logo um batalhão
Prenda esse louco minha gente
Homem doido não é inocente
Atira na tela do cinema
Atingindo a multidão
Um coitado totalmente sem noção

De doido seu João nada tinha
Queria apenas seu irmão defender
Gritava seu João Ra todo lado
Prende esse cabra minha gente
Infeliz quer matar Jesus
Isso não posso deixar  acontecer
Pois Jesus o Cristo é nossa Luz

Jesus Cristo filho do Salvador
O mal que no mundo existe
É coisa que não lhe agrada
Tudo está escrito e foi mandado
Por Deus nosso Senhor
De miséria e violência
Este mundo indo a falência

Muitos deixam os oprimidos
Sem a mínima consciência
E graças aos opressores
Que exercem influência
Somos nós os sofredores.
Buscando no mundo a sobrevivência 

A polícia nada  acreditava
Naquilo que seu João falava
Eles só se preocupavam 
Com aquele sangue
Que seu João derramava
Homem simples,
Mas ignorante do saber
Não havia mais como conter

Diante da situação
Tanta gente se espalha
E para seu João sem explicação
Que Jesus filho do Salvador
Ali  era  cinema
E não que vivemos em cena

Naquele dia o cinema virou tragédia
E viver a cena da arte na literatura
Tornou-se para seu João uma tortura
E assim sua vida virou comédia
Indo direto para xadrez
Com direito há doze anos por vez

Não via mais o mundo lá fora
Sua família foi, foi embora.
Seu João abandonado ficou
Perdeu tudo na vida
Somente para defender
O filho do nosso Senhor

Seu João que não tinha
Conhecimento da arte
Mas artista se tornou
Ficou esperto, notou
Que se ficasse louco
Não seria sofredor
E assim ao invés de doze anos
Apenas três de xadrez pegou

E na sela sua loucura era
Ver Jesus. Jesus para lá Jesus cá
E assim foi Jesus que sua pena amenizou
Por conta de sua loucura
Uma ficção sem censura
Da maldade e da tortura se livrou

Caiu no mundo de volta
Dizia: para ser forte valente e bravo.
O primeiro  passo é reconhecer
Tudo que possa ser e  fazer
Primeiro quem procurou
Sua mãe aquela que lhe abandonou

Chegando a sua casa logo perguntou
Minha mãe quer morar comigo
A senhora sabe que lhe tenho todo amor
E mais uma vez sua mãe o negou
Logo ficou triste e muito arrasado
Saiu pelo mundo a fora
Porém ainda assim animado

Depois de tanto sofrer
A Bahia resolveu conhecer
Chegando  lá na terra dos orixás
Lugar onde ficou firmado
Encontrou uma bela morena
Cor de cravo sua pele, era Serena
Depois de um beijo colado
Ficou logo apaixonado

Serena se tornou seu amor
Homem esperto inteligente
Com Serena logo casou
Começou a negociar, viver como gente
E logo, logo dinheiro fabricou.
Tornou –se dono de terras, gados e ovelhas

Sua vida agora era viver o presente
Que pelas terras firmou
E depois de muito tempo
Ara seu maior azar
Seus amigos começaram
Sua vida cobiçar

Perante tanto dinheiro
Que seu João arrumou
A cobiça e inveja revelam
Que amigos nos martelam
Falando para seus amigos
Não quero fazer besteira
Não mexam nas minhas terras
Porque se não sai faca e peixeira

Se elas minhas terras eu sou
Vou logo cai na briga
Aqui todo suor me custou
E com toda confusão
Sua vida virou intriga
Caiu no meio do cangaço 
Feito Lampião foi perdendo seu  espaço

Matou um, matou dois
Defendendo suas terras pois
Não era o que queria, mas,
Assassino se tornou
Tempo passa, tempo vem
E seu João se transformou
De tanta Fé em Deus
Rezador se tornou

A polícia de novo lhe procura
Tempo depois tudo de novo
Agora era ele seu João, rezador do povo.
A polícia o encontrou
Pensava seu João xadrez de novo não
E sem muita explicação
A polícia ele comprou

Vendeu todo seu património
Da  polícia se livrou
Hoje vive na vida
Com Serena sua querida
Mais uma vez abandonado ficou
Seus três filhos  foram embora
Mas Serena não lhe deixou

Homem lutador que continuou rezador
Vive numa casa simples
Com o coração machucado
Reflete que nada pode ser conturbado
Se do seu lado anda um Cristo Amado
Seu lema é defender a vida
E debatendo sua história ferida

Restando uma simples oração
De tanto sofrimento e ação
O seu pensar é forte
Ganhou tudo na vida
Mas também tudo perdeu
Ah! Vida ingrata
Tudo que isso ele viveu
Somente por que
Nada do cinema ele conheceu

Essa história começou a ser escrita
Dentro de um hospital
Onde era meu pai que passava mal
Em Julho de dois mil e cinco
Hoje lamento saudades e sinto
A ausência de quem tanto amo
Mas sei que Deus sabe de tudo

Ninguém vive nessa vida
Sem tortura e sem saber
E assim, em Feira de Santana.
Continuei a escrever
E em toda essa vida mundana
Não há nada tão especial
Igual  o grande saber.








MINIBIOGRAFIA

Nasci em Pernambuco na cidade de Poção, a qual me fez ser mulher rendeira por um bom tempo. Cursou o ensino médio já no estado da Bahia  onde mora conclui o    magistério.
Pós graduada  em   Língua Estrangeira em Língua Portuguesa,  também com especialização em Alfabetização.Curso completo  de inglês. Lecionou  por muito tempo no CCAA. Atuou como formadora na Formação Continuada do  Pacto Pnaic no Município de Paulo Afonso. Vem realizando e enfatizando Projeto Leitura desde sempre tendo maior dedicação desde ano  dois mil quatorze. Foi Articuladora do Jornal A Tarde no Programa A Tarde Educação por um longo tempo. Estudou em Poção, Arcoverde,  Petrolândia, Aracaju,  Rio de Janeiro, São Paulo, Feira de Santana, Juazeiro, Ribeiro do Pombal  e  Paulo Afonso cidade onde vive  e trabalha. Também atuou como monitora na   faculdade AESA /CESA onde fez seu curso de letras. Hoje segue seu caminho   com seu Projeto Leitura Luz do Aprender na escola onde trabalho. Escola Municipal Vereador João Bosco Ribeiro e  curso de Inglês Achieve Languages. Atualmente participando do Primeiro Encontro de Escritores de Santa Brígida - BA  2019.















































































































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