Autora
Carmem Silva
O
doido que não era louco
Em meados da
década de quarenta
Uma notícia
forte se espalha
De repente um
acontecido arrebenta
Ao seu João que
não tinha falha.
Conhecer a arte
para ele não deu
Na violenta
cidade de Floresta
Lugar onde
nasceu
Em tamanho e sabedoria
Foi assim que
ele cresceu.
Seu ai era homem
do campo
Sua mãe de boa
formação
Carinhoso com
seus pais
Dava-lhes muita
atenção
E fez questão de
ama-los
Com bastante
afeição
Dizia que: todo
poder mesmo forte
Tem sua
debilidade
Para seu João a
arte de encenar
Não era nada de
falsidade
Era a luz do
viver do artista
Transformando o,
até num cientista.
Seu João
conhecimento não tinha
Porém era feliz,
que o saber lhe continha.
Pensava em
oprimidos juntos
Que para ele
seria nova humanidade
Libertando quem
oprime
Tem os dois a
liberdade
Certo dia entrou
numa fria
Diante do
sucesso que acontecia
Em forma de
surpresa e novidade
Era o cinema que
surgia
Seu João homem
negro sem falha
Aparece louco,
quando percebe.
Que da arte nada
lhe ampara
Pois no dia nove
de abril
Seu João
entristeceu
Em meados dos
anos quarenta
Sua dignidade
perdeu
Por falta da
arte que lhe sustenta
Assim foi a
história que o nordeste conheceu
Homem cheio de
amizade
Cabra valente e
desconfiado
Ir ao cinema
tornou se realidade
E foi por amigos
convidado
Numa sexta feira
santa
Estava lá o
sonho baseado
Num fato de
realidade
O cinema tratava
da vida Cristo
Filho de Deus o
Salvador
Surpreso seu
João estava
Com o que nunca
tinha visto
Passava na tela
A vida de Jesus
Cristo
Seu João nunca
viu
Tanto sofrimento
a Cristo
E assim no
estado de Pernambuco
Tudo aquilo
nunca fora explícito
Foi ficando perturbado feito maluco
Pegou seu rife, atirou feito danado
Querendo ele
acabar aquele mal
Foi tiro para
todo lado
Todo mundo tão
apavorado
Acertou seis
camaradas, fatal.
Foi uma
tragédia, e grita o povo.
De dentro do
cinema se escutava
Polícia! Polícia!
Gritando
Veio logo um
batalhão
Prenda esse
louco minha gente
Homem doido não
é inocente
Atira na tela do
cinema
Atingindo a
multidão
Um coitado
totalmente sem noção
De doido seu
João nada tinha
Queria apenas
seu irmão defender
Gritava seu João
Ra todo lado
Prende esse
cabra minha gente
Infeliz quer
matar Jesus
Isso não posso
deixar acontecer
Pois Jesus o
Cristo é nossa Luz
Jesus Cristo
filho do Salvador
O mal que no
mundo existe
É coisa que não
lhe agrada
Tudo está
escrito e foi mandado
Por Deus nosso
Senhor
De miséria e
violência
Este mundo indo
a falência
Muitos deixam os
oprimidos
Sem a mínima
consciência
E graças aos
opressores
Que exercem
influência
Somos nós os
sofredores.
Buscando no
mundo a sobrevivência
A polícia
nada acreditava
Naquilo que seu
João falava
Eles só se
preocupavam
Com aquele
sangue
Que seu João
derramava
Homem simples,
Mas ignorante do
saber
Não havia mais
como conter
Diante da
situação
Tanta gente se
espalha
E para seu João
sem explicação
Que Jesus filho
do Salvador
Ali era
cinema
E não que
vivemos em cena
Naquele dia o
cinema virou tragédia
E viver a cena
da arte na literatura
Tornou-se para
seu João uma tortura
E assim sua vida
virou comédia
Indo direto para
xadrez
Com direito há
doze anos por vez
Não via mais o
mundo lá fora
Sua família foi,
foi embora.
Seu João
abandonado ficou
Perdeu tudo na
vida
Somente para
defender
O filho do nosso
Senhor
Seu João que não
tinha
Conhecimento da
arte
Mas artista se
tornou
Ficou esperto,
notou
Que se ficasse
louco
Não seria sofredor
E assim ao invés
de doze anos
Apenas três de
xadrez pegou
E na sela sua
loucura era
Ver Jesus. Jesus
para lá Jesus cá
E assim foi
Jesus que sua pena amenizou
Por conta de sua
loucura
Uma ficção sem
censura
Da maldade e da
tortura se livrou
Caiu no mundo de
volta
Dizia: para ser forte
valente e bravo.
O primeiro passo é reconhecer
Tudo que possa
ser e fazer
Primeiro quem
procurou
Sua mãe aquela
que lhe abandonou
Chegando a sua
casa logo perguntou
Minha mãe quer
morar comigo
A senhora sabe
que lhe tenho todo amor
E mais uma vez
sua mãe o negou
Logo ficou
triste e muito arrasado
Saiu pelo mundo
a fora
Porém ainda
assim animado
Depois de tanto
sofrer
A Bahia resolveu
conhecer
Chegando lá na terra dos orixás
Lugar onde ficou
firmado
Encontrou uma
bela morena
Cor de cravo sua
pele, era Serena
Depois de um
beijo colado
Ficou logo
apaixonado
Serena se tornou
seu amor
Homem esperto
inteligente
Com Serena logo
casou
Começou a
negociar, viver como gente
E logo, logo
dinheiro fabricou.
Tornou –se dono
de terras, gados e ovelhas
Sua vida agora
era viver o presente
Que pelas terras
firmou
E depois de
muito tempo
Ara seu maior
azar
Seus amigos começaram
Sua vida cobiçar
Perante tanto
dinheiro
Que seu João
arrumou
A cobiça e
inveja revelam
Que amigos nos
martelam
Falando para
seus amigos
Não quero fazer
besteira
Não mexam nas
minhas terras
Porque se não
sai faca e peixeira
Se elas minhas
terras eu sou
Vou logo cai na
briga
Aqui todo suor
me custou
E com toda
confusão
Sua vida virou
intriga
Caiu no meio do
cangaço
Feito Lampião
foi perdendo seu espaço
Matou um, matou
dois
Defendendo suas
terras pois
Não era o que
queria, mas,
Assassino se
tornou
Tempo passa,
tempo vem
E seu João se
transformou
De tanta Fé em
Deus
Rezador se
tornou
A polícia de
novo lhe procura
Tempo depois
tudo de novo
Agora era ele
seu João, rezador do povo.
A polícia o
encontrou
Pensava seu João
xadrez de novo não
E sem muita
explicação
A polícia ele
comprou
Vendeu todo seu património
Da polícia se livrou
Hoje vive na
vida
Com Serena sua
querida
Mais uma vez
abandonado ficou
Seus três
filhos foram embora
Mas Serena não
lhe deixou
Homem lutador
que continuou rezador
Vive numa casa
simples
Com o coração
machucado
Reflete que nada
pode ser conturbado
Se do seu lado anda
um Cristo Amado
Seu lema é
defender a vida
E debatendo sua
história ferida
Restando uma
simples oração
De tanto
sofrimento e ação
O seu pensar é
forte
Ganhou tudo na
vida
Mas também tudo
perdeu
Ah! Vida ingrata
Tudo que isso
ele viveu
Somente por que
Nada do cinema
ele conheceu
Essa história
começou a ser escrita
Dentro de um
hospital
Onde era meu pai
que passava mal
Em Julho de dois
mil e cinco
Hoje lamento
saudades e sinto
A ausência de
quem tanto amo
Mas sei que Deus
sabe de tudo
Ninguém vive
nessa vida
Sem tortura e
sem saber
E assim, em
Feira de Santana.
Continuei a
escrever
E em toda essa
vida mundana
Não há nada tão
especial
Igual o grande saber.
MINIBIOGRAFIA
Nasci
em Pernambuco na cidade de Poção, a qual me fez ser mulher
rendeira por um bom tempo. Cursou o ensino médio já no estado da
Bahia onde mora conclui o magistério.
Pós graduada em Língua Estrangeira em Língua Portuguesa, também com especialização
em Alfabetização.Curso completo de inglês. Lecionou
por muito tempo no CCAA. Atuou como formadora na Formação
Continuada do Pacto Pnaic no Município de Paulo Afonso. Vem
realizando e enfatizando Projeto Leitura desde sempre tendo maior
dedicação desde ano dois mil quatorze. Foi Articuladora do Jornal A
Tarde no Programa A Tarde Educação por um longo tempo. Estudou
em Poção, Arcoverde, Petrolândia, Aracaju, Rio de Janeiro, São Paulo, Feira
de Santana, Juazeiro, Ribeiro do Pombal e Paulo Afonso cidade
onde vive e trabalha. Também atuou como monitora na
faculdade AESA /CESA onde fez seu curso de letras. Hoje segue seu caminho com seu Projeto Leitura Luz do Aprender na escola onde
trabalho. Escola Municipal Vereador João Bosco Ribeiro e curso de Inglês Achieve Languages. Atualmente participando do Primeiro Encontro de Escritores de Santa Brígida - BA 2019.
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